segunda-feira, 20 de abril de 2009

PROCURADA POR TODOS

A verdade procurada por todos.Como a carteira que não se perdeu.
A verdade almejada.Como a amada que surgirá e não se cogita.
Gostaria que a verdade fosse este prazer que sinto.
Este prazer que sinto em descansar de tudo.
Este prazer que sinto em estremecer ao sabor de uma porção de chocolate.
Antes, buscava o impossível como esperança.
Antes, buscava nadar num mar tranquilo.
Mas, quando olhei para o barco a vela e na vela desenhada uma cantiga de amigo.
Me pus então a pensar como um trovador.
Gostaria que a verdade fosse mais simples.
De poder dizer o que me vai ao coração como quem escova os dentes e exibe o gesto.
Mas não sei sinceramente não sei.
Encontrei em Álvaro um similar, um amigo tardio.
Álvaro de Campos nos campos do meu poema.
Não concordamos em tudo, só na beira da angústia.
Cansamos juntos até de descansar.
Mostrei-lhe o vaso com a flor em cima e ele não viu nada a não ser meus olhos em delírio.
A verdade procurada por todos.
Só não a procuro porque ela vem a mim.
Mas vem sem pretensão de ser verdade eterna, sem pretensão do sempre, nem do nunca.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CHOCOLATE


Que tenho eu com as telas que vêm sobre mim?Mas avançam rapidamente e eu sem teclado.Tudo é tão rápido e muda sem esperar que limpemos os chinelos.Tudo parece tão importante.Nada parece tão importante.Tudo e Nada.O cão chocolate que foi salvo na escada.Meu coração que de repente bateu em curto-circuito.E as telas avançam e não pequei o suficiente.O que é o pecado senão a hóstia que me enfiaram goela abaixo?Vivo eu para as células ou elas pra mim?Gostaria de fazer coisas importantes para a comunidade.Mas já as faço quando são importantes para mim.As telas não têm pena dos meus olhos e os fornicam.Guernica é todo o meu espírito que possuo com o nome de ser.Sou uma guerra civil que nunca alguém viu.O cão chocolate que estava na escada e quase iria comer de palitinhos.Tudo é tão importante, gatinho jonjon.Como rugas belas à volta de teus olhos em rouquidão.Olhos também ficam roucos, quais querubins de óculos pretos.O cão chocolate foi salvo.Esta é a felicidade que interessa.Se eu fosse chocolate, também esconderia sapatos de anjos bons.Mas sou apenas o que de repente entrou em curto-circuito.Os faróis têm uma quentura salgada e na pele finalizam amarelos.Na vida, as telas não param ou somente param em imagens sem saída.Gosto de pensar na vida como incompleta mas dói o incompleto como o sempre.O sempre dói tanto apesar da insegurança do nunca.Tudo é tão rápido que acabarei sendo um texto para "stand-up".E se eu te encontrasse na escada, gatinho jonjon?Antes do homem dos palitinhos.As telas avançam e eu sem teclado faço o que posso.Sei até que posso partir todavia procuro uma escada.Aí poderei ser chocolate e ser simples e bom em esconder chinelos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

LENDO CUBATÃO


Cubatão, atenta no que digo,

E deixa eu ler-te o imberbe rosto...

Vejo, pelas linhas que ele tem,

Guerras que, valente, enfrentaste,

Aos olhos salsos dos sambaquis.

E enxergo-te a tostada face

Em araçás, jacatirões,Bananas, jacas, mexericas,

Dando perfume a tuas glórias,

Como cantou teu filho Afonso Schmidt,

Ao bem louvar-te a fauna e a flora.

Não precisa olhar, só ouve a canção

Que flui em teu rosto de rios e serras,

Guarida e piscina de ágeis pirralhos,

Vitrina de peixes, cujos olhos guardam

A nudez antiga de moças risonhas,

Acocoradas, se lavando,

Engrossando as coxas no agacharem-se,

De pito nos lábios, em paixão intensa,

Por artes de botos em candentes taras.

Escuto em teu peito o sangue quente

Do velho povoado em fluxo verde

Nas trilhas infindas de índios, que Ramalho,

Martim, Tibiriçá, e outros, percorreram,

Subindo o íngreme planalto, em caça

Dos tupinambás, valentes titãs.

Guarda essas moedas que caem dos lázaros.

Apanha-as do chão e com elas adquire

Um terreno ao pé de velha estrada serpenteante,

Onde descanses lembranças de DOM PEDRO I,

Que te cobiçou a pele morena, quase aqui deixando

O sêmen da independência.

Descansa a memória também de PEDRO II

E seca as mãos molhadas de MIQUELINA DOMINGUES

Que deu luz certeira à nossa terra em penumbra,

Primaverando sua argila de outono.