domingo, 23 de agosto de 2009

MEU NOBRE NASAL

Lançam olhares no meu nasal.
Sequer ligando ao seu tremer.
- Não és feliz? - fala o pessoal.
- Corta o nariz, resto de Ser!
Ganho o destino de fato
Quando aceito a divindade
Deste nobre narizaço,
Meu amigo de verdade.
E vão zombando de meu nariz
Com toda inveja da grande quilha
Que me condiz, como se fosse
Crime e ofensa ao que não se diz.
Mas meu nasal vai indo em frente
Brilhante, armado e bem feliz.

domingo, 9 de agosto de 2009

FAMILÍA COM CERA NO TEM,PO


A família comum entra no barzinho do Marquinho Donald

E senta-se.– O Haiti não é aqui...

Cantou o caçula,

Com precoce desagrado e sabedoria.

Anjos se trajavam com a nudez do ar

E fornicavam com as nuvens em trovão.

Dois indultados no Natal e suas metralhas

Entram no bar do Marquinho, pleno da cera do tempo.

O galo canta três vezes livre e misterioso

Num celular vizinho à família,

Que é rendida sem esforço maior.

No bolso tremem reis magros de um jogo de xadrez.

Leocádia correu junto com a prole e Antonio clamou desesperado:

– Por favor, sou pai de quatro filhos e um de peito!

(No outro dia, na Internet, a estampa de Antonio em “catchup”Como se fosse um “Big Dog”.)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

LEVA O POEMA PRA PASSEAR


Leva o poema pro passeio público.

É preciso afugentar os autômatos.

Espantar as roxas frutas nas bocas.

Une-te a teus irmãos azuis.

Lá, estranhos monologam em pressa.

Mas é preciso dar atenção aos pobres.

Eles bebem e comem sobre papéis de asfalto.

São faltos de esperança há muito.

Desliga-te dos peitos inflados no vácuo.

Entrega-lhes o poema, porém, como pergunta.

Perseguem o dia e o perdem, como tu.

Vai, filho, antecipa-te aos homens cinzentos.