domingo, 23 de agosto de 2009

MEU NOBRE NASAL

Lançam olhares no meu nasal.
Sequer ligando ao seu tremer.
- Não és feliz? - fala o pessoal.
- Corta o nariz, resto de Ser!
Ganho o destino de fato
Quando aceito a divindade
Deste nobre narizaço,
Meu amigo de verdade.
E vão zombando de meu nariz
Com toda inveja da grande quilha
Que me condiz, como se fosse
Crime e ofensa ao que não se diz.
Mas meu nasal vai indo em frente
Brilhante, armado e bem feliz.

domingo, 9 de agosto de 2009

FAMILÍA COM CERA NO TEM,PO


A família comum entra no barzinho do Marquinho Donald

E senta-se.– O Haiti não é aqui...

Cantou o caçula,

Com precoce desagrado e sabedoria.

Anjos se trajavam com a nudez do ar

E fornicavam com as nuvens em trovão.

Dois indultados no Natal e suas metralhas

Entram no bar do Marquinho, pleno da cera do tempo.

O galo canta três vezes livre e misterioso

Num celular vizinho à família,

Que é rendida sem esforço maior.

No bolso tremem reis magros de um jogo de xadrez.

Leocádia correu junto com a prole e Antonio clamou desesperado:

– Por favor, sou pai de quatro filhos e um de peito!

(No outro dia, na Internet, a estampa de Antonio em “catchup”Como se fosse um “Big Dog”.)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

LEVA O POEMA PRA PASSEAR


Leva o poema pro passeio público.

É preciso afugentar os autômatos.

Espantar as roxas frutas nas bocas.

Une-te a teus irmãos azuis.

Lá, estranhos monologam em pressa.

Mas é preciso dar atenção aos pobres.

Eles bebem e comem sobre papéis de asfalto.

São faltos de esperança há muito.

Desliga-te dos peitos inflados no vácuo.

Entrega-lhes o poema, porém, como pergunta.

Perseguem o dia e o perdem, como tu.

Vai, filho, antecipa-te aos homens cinzentos.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

ELEVAR RIOS A OCEANOS


Minha língua vai criando oceanos,
Percorrendo continentes, ilhas e vales,
Deslizando-te signos de amor na testa, pupilas,
E tombando em teu pescoço como símbolo ardente.
Febre líquida em torno de teu sentido íntimo
Teu umbigo rio de livros onde mergulho angústias milenares...
E atinjo-te o vale do púbis - céu averno de embriaguês
Então, a sensação de elevar rios a oceanos.
Restando afogar-me no teu sempre-nunca.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ELIS, EM POSTAS DE ESPELHOS


Espelhos esparramam

Em dúbias verdades

A vida em seu vidro

De corte e revide.

Os cacos esboçam

Em postas de espelho

Átomos feridos

De eus em explosão

Dar mil vidas às mãos,

Dar ais ao morto mar,

Gerar redemoinhos

E perder eus no amar.

Ficar ser-marfim

,Ou fino vão de claros

Apesar dos cortesDo sempre.

sábado, 11 de julho de 2009

POEMAS DESARMEI E DEGOLAÇÃO


Eu fiquei a coçar perebas.
Ela foi a manipular o sexo
Que descobrira ao sul de si.

Eu me dei aos vãos de meus dedos.
Nela dói o eu ter me olhado.
O eu ter viajado
Ao norte de mim.

Eu fiquei. No norte.
Ela foi. Ao sul.

Desarmei o vento de ser.
De ser desejo a lamber-me.
Em pedaços,
Não me servi da ceia. Hoje.

Só hoje, notei os raios que ficaram
De seus olhos feridos nos meus.

A DEGOLAÇÃO

Não é fácil esconder a degolação do ditador.

Se ele está em nós há muito tempo.

Do festim e da dança poucos querem saber.

Acreditamos em suas promessas de crescimento.

Não é fácil nos esconder.

Não queremos saber da textura de seu pescoço e corte.

Desejamos apenas terra para embrulho das arestas.

E gotas mínimas dos glóbulos para afogá-lo.

Embora tenhamos acreditado em suas mãos delicadas.

terça-feira, 7 de julho de 2009

ESTOURANDO TEU JUISO INFLAVEL


Se você olhar na dobra dos olhos você verá.Aquela mínima de pele acima das pálpebras.Ali se esconde aquela surra de um pai irado e bêbado.Quem sabe, sofreu abuso sob as mariposas.Se você olhar verá o que é impossível esconder.O namorado que em seus buracos pôs objetos de plástico.Os dedos do avô, do tio, do padrinho, estão naqueles sinais do pescoço.Quase escondido um ponto de lágrima você verá.Só juntar um com o outro para se fazer SMAC.Há marcas aqui sugerindo novelas de horror.Outras ali sugerindo suspenses inelutáveis.Chamas de puta nojenta em razão de tua ausência de ser.Chamas de puta nojenta e depois quebras o espelho.Porque ostentas tua moral com galhardia contente,O que está por trás não te interessa?Por isso, faço cócegas no teu remorso de plástico.Assim, vou estourando teu pouco juízo inflável.

sábado, 27 de junho de 2009

BEM E UM POUCO DE MAU


O medo sem garantias

O eterno jeito de ceia

O amor e sua azia

Uma reta fugidia

Uma mole geometria

Um bem e um pouco de mal

O amor e sua teia

Vitamina e sonrisal

Sorriso e bolo de aveia

Veia sangrando macia

O medo em funda bacia

Controlado vinho e sal

Descontrolado de frente

O amor glória falaz

Livre e forçosamente

O medo vindo por trás

Gerando crime serial

De dar formas à semente

Em poesia letal

Onde o ser mente e desmonta

Desmentindo orbes celestes

Que amores fiam de ontens

sábado, 20 de junho de 2009

ARIEL - o poema ARIEL é da Poetisa Sylvia Plath


Estancamento no escuro

E então o fluir azul e insubstancial

De montanha e distância.

Leoa do Senhor como nos unimos

Eixo de calcanhares e joelhos!...

O sulcoAfunda e passa, irmão

Do arco tenso

Do pescoço que não consigo dobrar.

Sementes

De olhos negros lançam escuros

Anzóis...

Negro, doce sangue na boca,

Sombra,

Um outro vôo

Me arrasta pelo ar...

Coxas, pêlos;

Escamas e calcanhares.

Branca

Godiva, descasco

Mãos mortas, asperezas mortas.

E então

Ondulo como trigo, um brilho de mares.

O grito da criança

Escorre pela parede.

E eu

Sou a flexa,

O orvalho que voa,

Suicida, unido com o impulso

Dentro do olhoVermelho, caldeirão da manhã.

(tradução de Ana Cândida Perez e Ana Cristina César)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

EXPLODIU UM CORAÇÃO


Explodiu um coração ali logo ali

um amor de missão impossível

lâmina na garganta

foi assim o sangue escorrendo

dum ídolo de flores

Explodiu num corpo só maduro

um corpo olhando outro corpo

um ser olhando outro ser

foi assim um vaso escorrendo

chorando pétalas

Explodiu pois nasceu isolado

sem profecias sem esperanças

sem versos sem conexões

foi assim despetalando

sobre corolas neutras

Explodiu e banhou a cidade toda

esse coração indecoroso

nu e fragmentando a barriguinhada brisa em infinitudes e eternidades

sábado, 13 de junho de 2009

ELAS, AS HERDEIRAS

Sob o vale dos homens,
Elas sofrem.
Sob o vale dos homens,
A outorga do espinho.
Elas, as abandonadas.
Elas, as nauseadas do tédio.
Elas dançam
Quais flores de abismo.
Elas dançam
Quais réus de loucura.
O palco onde estiveram
Ainda tem umidade da procura.
Elas, as herdeiras da submissão.
Herdeiras das estátuas de cinzas de Pompéia.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

PROCURADA POR TODOS

A verdade procurada por todos.Como a carteira que não se perdeu.
A verdade almejada.Como a amada que surgirá e não se cogita.
Gostaria que a verdade fosse este prazer que sinto.
Este prazer que sinto em descansar de tudo.
Este prazer que sinto em estremecer ao sabor de uma porção de chocolate.
Antes, buscava o impossível como esperança.
Antes, buscava nadar num mar tranquilo.
Mas, quando olhei para o barco a vela e na vela desenhada uma cantiga de amigo.
Me pus então a pensar como um trovador.
Gostaria que a verdade fosse mais simples.
De poder dizer o que me vai ao coração como quem escova os dentes e exibe o gesto.
Mas não sei sinceramente não sei.
Encontrei em Álvaro um similar, um amigo tardio.
Álvaro de Campos nos campos do meu poema.
Não concordamos em tudo, só na beira da angústia.
Cansamos juntos até de descansar.
Mostrei-lhe o vaso com a flor em cima e ele não viu nada a não ser meus olhos em delírio.
A verdade procurada por todos.
Só não a procuro porque ela vem a mim.
Mas vem sem pretensão de ser verdade eterna, sem pretensão do sempre, nem do nunca.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CHOCOLATE


Que tenho eu com as telas que vêm sobre mim?Mas avançam rapidamente e eu sem teclado.Tudo é tão rápido e muda sem esperar que limpemos os chinelos.Tudo parece tão importante.Nada parece tão importante.Tudo e Nada.O cão chocolate que foi salvo na escada.Meu coração que de repente bateu em curto-circuito.E as telas avançam e não pequei o suficiente.O que é o pecado senão a hóstia que me enfiaram goela abaixo?Vivo eu para as células ou elas pra mim?Gostaria de fazer coisas importantes para a comunidade.Mas já as faço quando são importantes para mim.As telas não têm pena dos meus olhos e os fornicam.Guernica é todo o meu espírito que possuo com o nome de ser.Sou uma guerra civil que nunca alguém viu.O cão chocolate que estava na escada e quase iria comer de palitinhos.Tudo é tão importante, gatinho jonjon.Como rugas belas à volta de teus olhos em rouquidão.Olhos também ficam roucos, quais querubins de óculos pretos.O cão chocolate foi salvo.Esta é a felicidade que interessa.Se eu fosse chocolate, também esconderia sapatos de anjos bons.Mas sou apenas o que de repente entrou em curto-circuito.Os faróis têm uma quentura salgada e na pele finalizam amarelos.Na vida, as telas não param ou somente param em imagens sem saída.Gosto de pensar na vida como incompleta mas dói o incompleto como o sempre.O sempre dói tanto apesar da insegurança do nunca.Tudo é tão rápido que acabarei sendo um texto para "stand-up".E se eu te encontrasse na escada, gatinho jonjon?Antes do homem dos palitinhos.As telas avançam e eu sem teclado faço o que posso.Sei até que posso partir todavia procuro uma escada.Aí poderei ser chocolate e ser simples e bom em esconder chinelos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

LENDO CUBATÃO


Cubatão, atenta no que digo,

E deixa eu ler-te o imberbe rosto...

Vejo, pelas linhas que ele tem,

Guerras que, valente, enfrentaste,

Aos olhos salsos dos sambaquis.

E enxergo-te a tostada face

Em araçás, jacatirões,Bananas, jacas, mexericas,

Dando perfume a tuas glórias,

Como cantou teu filho Afonso Schmidt,

Ao bem louvar-te a fauna e a flora.

Não precisa olhar, só ouve a canção

Que flui em teu rosto de rios e serras,

Guarida e piscina de ágeis pirralhos,

Vitrina de peixes, cujos olhos guardam

A nudez antiga de moças risonhas,

Acocoradas, se lavando,

Engrossando as coxas no agacharem-se,

De pito nos lábios, em paixão intensa,

Por artes de botos em candentes taras.

Escuto em teu peito o sangue quente

Do velho povoado em fluxo verde

Nas trilhas infindas de índios, que Ramalho,

Martim, Tibiriçá, e outros, percorreram,

Subindo o íngreme planalto, em caça

Dos tupinambás, valentes titãs.

Guarda essas moedas que caem dos lázaros.

Apanha-as do chão e com elas adquire

Um terreno ao pé de velha estrada serpenteante,

Onde descanses lembranças de DOM PEDRO I,

Que te cobiçou a pele morena, quase aqui deixando

O sêmen da independência.

Descansa a memória também de PEDRO II

E seca as mãos molhadas de MIQUELINA DOMINGUES

Que deu luz certeira à nossa terra em penumbra,

Primaverando sua argila de outono.

domingo, 22 de março de 2009

PEDIDO


Quando cheguei aqui, pediram-me um poema de amor.
Disseram-me: se és poeta, um poema de amor é fácil.
Apesar dos pedidos, não larguei o dicionário.
Estava com fome e a fome é selvagem.

Desconfiaram então de meu talento, que eu não tenho.
Consegui enganar a todos que posso fazer um poema.
Por isso, pediram-me um poema de amor.
Logo a mim pediram, hoje, um poema assim.

Eu, que não entendo do amor nem um tiquinho.
Que quando amei, sim, escrevi sobre o amor.
Hoje, de manhã, vi o amor num espelho quebrado.
À noite, quando me sinto apto, o amor não aparece.

Mas eu já fiz um poema de amor. Quando??
Eu não me lembro, mas o fiz de asas brilhantes,
Com rosas no bico e pérolas nos olhos
E era este amor escravo da Beleza e de seu Anjo.

Era esse amor habitante de um planeta de lágrimas doces.
Em cada palavra, ontem, a promessa da maçã eterna.
Hoje, me pedem um poema de amor...
.....Espera, agora o vejo em ti, leitor que me lê.

terça-feira, 17 de março de 2009

PULO

Às vezes, dou cada pulo,
e consigo enovelar as nebulosasdo meu pensar que não chega a conclusão alguma.
As vezes, dou a impressão creme dental,
e todos julgam que sou um artista circensedomador de baratas risonhas.
As vezes, amo como um projétilama seu destino e escorro rubro
sobre a dor fina do afeto.
Mas consigo me ultrapassar escrevendo
a história impermanente de alguém como eu
que trabalha e se diverte como eu
que possui os meus mesmos amores
dando os mesmos pulos e quebrando
a ponte de madeira podre que me sustenta.

quarta-feira, 4 de março de 2009

ILUMINAÇÃO


Perdi a alma enquanto corria pra cá.Não percebi, precisava recolher o que perdera.E o transporte espacial nunca atrasou.Corri, a mais não poder.Fui deixando também as roupas.Enquanto corria para cá.Precisava pegar o transporte junto a vocês.Sei que vocês notam minhas cores agora verdadeiras.Sei que vocês notam. Meus pais me entregaram a alma quando eu engatinhava.O conceito de alma não nasceu comigo.Nasceu comigo apenas o receptáculo do Ser.Meu, o uníco dever de enchê-lo de idéias.Mas meus pais e amigos e inimigos chutaram o penico onde me acostumei a colocar a própria merda.Me deram uma alma cultivada na cultura patriarcal.Com ela, dominei as mulheres de Meu Pai e xeroquei seus livros sagrados.Até que percebi numa tarde, em algum país de dentro, que em mim algo maior que a alma borbulhava.E apenas soltei os botões que apertavam em mim a roupa tradicional da alma.Por isso, quando corri para cá, a perdi no caminho. Acho.Quer dizer, acho, por estarem soltos seus botões."De repente, ela se esconde entre suas unhas",me disse aquele monge/padre/pastor/feiticeiroque colocou sua perna para me impedir a corrida.

segunda-feira, 2 de março de 2009

A TEMPO


FILADELFO – Estou besta com o que me contaram! Estou com a minha cara no chão! Por isso é que eu digo a vocês: Deus só freqüenta igreja vazia. E a igreja do Padre Belmiro tá sempre cheia. Entenderam? Se ele não fosse padre, eu dava-lhe um tiro na boca! Ela é tarada por batina. E ele é um tímido. Não confio. Todo tímido é candidato a um crime sexual. Como é ela que dorme comigo, é nela que eu bato. Todo dia! Não admito censura nem de Jesus Cristo. Não admito. Pois toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem. Isso é batata. Além do mais, a amo com um desejo doentio. Todo desejo é vil. Mas não sou infiel. E amar é ser fiel a quem nos trai. Concorda? Mesmo que seja em pensamento e com um padre. E como eu tenho dinheiro, e dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro, eu agüento o peso das galhas! Só que amor verdadeiro...não é só sexo. Sexo é para operário. Certo? Concorda? O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual. Depois, ao final, morre em definitivo, escravo das próprias taras. Todos têm taras. Vá dizer que tu não tem? Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante, entendeu?... (DELIRA) Minha tara são as suas dentadas molhadinhas. E isso de maneira normalíssima. Quando nos conhecemos, ela me alisava a calvície e dizia, com fúria de desejo: ‘ai, que careca mais imoral!’ E nos mordíamos a torto e a direito, da cabeça aos pés. Um dia posso pedir pra ela te morder. Quer? Sem dentada, não há amor possível. Em nossa cama, a metafísica é odontológica. A cama é um móvel metafísico. Só que (APROXIMA-SE) o que me dói é que ela da dentadas em todos os amantes. De um deles, me fofocam sempre. Um ginecologista. Dizem pra mim que o zebu vive exibindo as mordidas...Todo ginecologista devia ser casto. Não é? Antigamente, a mulher que ia ao ginecologista sentia-se, ela própria, uma adúltera. Hoje, ninguém liga...O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com luva de borracha e um passarinho em cada ombro...Bem, quer dizer....Pensando melhor, minha mulher ia subir pelas paredes....não estou sendo coerente. Mas, olha. Escuta. Toda coerência é no mínimo suspeita. E eu não tenho certeza de nada. Contam pra mim, mas eu não vejo o ato. Só vejo saírem da cama, do armário, mas...depois, entende? Você sabe de alguma coisa de antes? O marido devia ser o último a saber. Aliás, o marido não deve saber nunca. A gente só é isso quando sabe, quando a gente vê, não é? Mas eu, por enquanto, não vi. Eu duvido do ato em si. A dúvida é a autora das insônias mais cruéis. Preferia que não me contassem. Não tenho amigo. Um amigo não inferniza a gente assim. (REFLETINDO) Amigo é um momento de eternidade. Mas estou no Brasil. O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro. Mas no Brasil são todos canalhas. Quem não é canalha na véspera, é no dia seguinte. Hoje, é muito difícil não ser canalha. Certa ocasião, ouvi o Nonato, aquele zebu, falar, e concordei. Disse que desistia da vida eterna. Por causa da pureza fedorenta de alguém. Preferia ser um canalha abjeto, capaz das bacanais mais horrendas.. A pressão da vida atual trabalha para a nossa canalhice pessoal e coletiva. Não é, hein? Fala. Olha, até menino é canalha, atualmente. Um dia, abri a porta do quarto e saiu da mulher um menino cobrindo as partes.... Não, ela não estava grávida. Até que eu gostaria de vê-la grávida. Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora. O menino não era bebê. Mas saiu de entre as pernas dela. Não de dentro. Pode acreditar. Hoje as coisas são assim. Certas épocas são doentes mentais, como a nossa. Sério. Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos....Talvez eu devesse procurar a morte. Deus prefere os suicidas... Mas eu não consigo. Olha meu coração. Põe a mão aqui. Olha. Te falo. De mãe pra filho. Este desgraçado aqui bate por uma infiel....Preciso saber onde ela tá (SAI).

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

QUEBRADIÇO

Há o borbulhar do aquário.
O peixe só nas falas da água.
Para ele as bolhas eternizam a água.
Eternizam o que a água é para ele.
Ele, o foco para onde convirjo agora.
Não tem o aspecto esperado.
Não se preocupa com os olhos em volta.
Não dá espetáculo.
O borbulhar é uma canção.
A voz que conversa com ele.
Durante toda a noite a voz lhe dirá.
Há bastante eloquência nesse fato.
O universo e sua força em cada onda.
O universo e sua andança de motor.
Há motor e tubos na UTI do aquário.
Viverá o peixe enquanto tiver ração.
Se há emoção, é a nossa que lhe reflete.
Se há razão, é a nossa de pouco siso.
Ele vai pra cima e pra baixo e não sabe
Que o enganamos com um mundo quebradiço.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

SONOEMFLU

Ouço as escolas de samba e é como se não.
Tento escrever numa linguagem que não.
Desvinculado o ouvido dos dedos, é assim.
Meus pés se mexem ao comando de quem
Eu penso que sou neste momento que passa.
Me encosto no ar antes do encosto
.Ouço as vozes que me falam sempre.
Vozes que me pedem, que me afugentam
De um carinho que perdeu medidas,
De um carinho que se esqueceu.
Movo a cabeça, movo os ombros,
E isso me diz que vivo, que tenho cérebro,
Que tenho substâncias químicas que me endereçam
A emoções que estavam na alma quando.
Quando eu acreditava na alma e na benção das seis.
Seis eram as horas irmãs de eu não pensar.
As horas de eu rezar e esquentar o ser.
Ouço as escolas crescendo no som que sinto.
Ouço o fogo do quarto pegando fogo.
E é como se não houvesse a diferença.
A diferença que faz o dia de hoje.
O suor escorre o cheiro de ontem.
E logo serei como milhares de corpos.
Estarei horizontal no relevo do colchão.
E será o sono o rei do corpo em fluxo.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

EVAS-LILITHS

Mulheres - Lúcias, Nísias Florestas,
Simones de bom voar, Márcias,Cibellys, Cidas, Éricas, Julianas,
E todas mais da vida e de álem,
Suficientes para preencher
Mil dias da Mulher e muito mais.
Data que é bela poesia de infindos pilares,
A sustentar universos de mentes e corações..
Neste e em outros tempos,
Ontens nos hojes de amanhãs,
Belas, feias, baixas, altas, pobres, ricas
,Traçam auroras e revolucionam
Inenarráveis florestas de atitudes,
No cotidiano, ganhando os dias
Com suores nos rostos e muito amor,
Mas muito amor, em suas expressões.
De tão femininas, extrapolam a femililidade,
Atravessando o espaço e o tempo
No íntimo de homens bestificados
Com o róseo que se estabelece em seus seres.
Mulheres brasileiras, herdeiras de Nísia Floresta,A
quela uqe ousou tirar a agulha dos dedos do Império
E desatrelou o espartilho que desfigurava moças
E colocou o livro e suas majestosas letras
No colo de Eva, com Lilith soprando aos ouvidos.
Nísia Floresta, mulher coragem e força e ânimo,
Dezenas de livros te fazem viva em todas
As mulheres que alargam os horizontes teus.
De teus quatro nomes Gilberto Mendes
Faria uma sinfonia.
E eu sou apenas um homem preso às convenções da vida
Tentando a admiração transcendente no manejar dos versos
,A sentir o jardim das mulheres, cuja vida e cor
Constroem novos homens, fruindo a civilização
Numa disposição mais calma e solidária.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

VOU LHES CONTAR UMA HISTÓRIA....

(VOU LHES CONTAR UMA HISTÓRIA
QUE ACONTECEU COMIGO
ELE COMEÇOU DIZENDO ASSIM:)
Quem gosta de capitalismo gosta de pensar que sabe tudo sobre ele.
Quem gosta de socialismo gosta de pensar que sabe tudo sobre ele.
E eu estou aqui, olhando o teu sapato.
Olho tua garota e tenho orgasmo.
Olho tua família e tenho inveja.
Um dia, eu trabalhei.
Já li livro.
Mas hoje é você que me interessa.
Te invejo.
E assim te condeno ao final.
Por isso, aqui te mantenho amarrado.
Por isso, sequestrei tua família.
Por isso, odeio tua cara bonita.
E agora vou te cortar
Pra tua cara ficar igual a minha.
Depois, vou dar um fim, vou te fazer.
Senão, cê vai me reconhecer.
Entenda.
Não tenho uma vida igual a tua.
E amanhã preciso achar outra família
Igual.
Você falaria sobre caráter
Se eu te soltasse?
Não, você me pediria pela própria vida.
Pois no fundo sua sobrevivência te importa.
A mim, importa a minha.
Mas, veja.Logo logo tudo vai acabar
.(E ASSIM QUASE FOICONSEGUI DOMINAR O MELIANTE
MATÁ-LO PICÁ-LOTAVA CHAPADO COMO EU TAVA ONTEM
E PASSEI POR CIMA DO PICADINHO
COM MEU CELTA PRETO...
CÊS QUEREM ENGOLIR UM...???)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

HOJE E AMANHÂ

Aqui o espírito feito de carne come.
É a sua forma de oração.Bebe.
É a sua forma de comunhão.
Que todos sejam alimentados.
Que todos matem a sua sede.
Pudesse eu ajudar a matar.
Matar todas as sedes do mundo.
Mas que pretensão envaidecida!
Quem pode isso fazer
Sem se comer?
Que todos sejam.
Que todos matem.
Que todos vivam.
Quem pode ajudar a viver
Sem se comer?
Pudesse eu ajudar na lição.
Mas há muito tempo estudei.
E as lições eram mais rápidas.
Hoje se aprende e se esquece.
Hoje se muda e amanhã se mudará.
Não há constância.Hoje a pobreza.
Amanhã, melancolia.
Embora, uma e outra se pareçam,
Só a segunda gera poesia.
- Pudesse eu ter mais tempo
Pra agradecer a panela vazia!
Assim, não como e não luto pra comer.
É o que me disse o hamster
Antes de morrer na calçada
Perto de viver.
Viver e morrer estão bem perto.
Hoje, melancolia.
Amanhã, pobreza.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

UM ÓDIO QUE ME AME

Quero andar com o queixo no peito.
Enjoos me dá o sorrir de coisas e gentes.
Com um cravo ligarei o queixo ao tórax.
Quero andar de queixo no peito.
Quero alcançar um porre além.
Lá chegarei de queixo ao chão.
Cansam-me rostos que vejo sempre.
Cansam-me os passos que chegam e param.
Não quero ser o social.
Aquele que todos entendem.
Aquele que todos admiram.
Preciso do ódio simplesmente.
Um ódio que me ame.

DESDE O CRÂNIO COM SIMONE

Este é o tempo.
Tempo de existir.
Tenho que fazer
O que a respeito disso?
Existir como sujeito das próprias ações?
Pisei o jardim.
Mas as flores estão inteiras.
O cão à espreita tem pudores.
Foi criado por um leão manco.
Estou com a mente enevoada.
Tenho de continuar.
Confesso que quis parar.
Mas o tempo não voltaria.
Se eu enxergasse o cão como cão
Ou o leão como leão
Seria dominado por um teatro de sombras
.Tenho de continuar.
Veja como pareço objetivo.
Veja como se escondem as tristezas.
Veja como os meus pés tortos se escondem.
E tem um anjo negro que insiste
Em me dar esperanças de luz.
Quer me colocar pra cima.
Quer que eu atravesse o muro.
Tenho de prosseguir.
Veja como pareço burguês.
Veja como a gola está disposta.
Veja como meu nariz se exibe.
Tem um anjo negro que sorri
Um sorriso que me faz pensar em sexo.
Quer me elevar esse anjo-mulher e
Como leões e cães me morde.
Careço de olhos, mas tenho de continuar.
Me alimento de olhos.
Só olhos me sustentam.
Desde a Santa Ceia de Simon
eUsando o crânio de Sartre
Sei que este é o tempo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

PROFISSIONAL


Ele olhou para eles e disse:

Vejam que não quero que me escutem com submissão.

Primeiro, me despedacem.

Não esperem que eu chegue até aí.

Eles continuaram a preparar o espetáculo.

Vez em quando olhavam para ele.

Comiam a Santa Ceia com piedade.

Pisavam as ervas amargas da travessia.

Saudem-se calorosamente.

Eles o ouviam com desdém.

Primeiro, o espedaçaram.

Não esperaram que ele chegasse.

Ele não pode continuar a falar.

Vez não teve em Jerusalém.

Comiam o respeito, no sangue

Que se derramava dos fragmentos

Do ator profissional e eles riram,

Enquanto o tempo se preparava

Para cobrí-los, tal qual sempre faz

Com todos os santos dos santos.

JÁ PASSEI


Feliz aniversário.

Que tudo se realize.

Que eu esteja perto

Pelo menos,finja

Eu alguma esfinge.

Quer seja em pensamento.

Quer não.

No mesmo limbo.

Furado, no ringue

A mesma luva cubra

Nossas mãos bilíngues.

Feliz aniversário.

Que tudo se realize.

Quer eu esteja morto

Por Brahman ou Arimahn.

Quer eu esteja vivo

Por tardes ou manhãs.

Quer jorre alheia chaga.

O mesmo soco atinja

E vibre e se abra

Neste purulento ano.

Feliz aniversário.

Mesmo que esteja longe

A razão.

Mesmo que esteja perto

O chip do amor.

Mesmo que nunca seja

O mundo dos Jetsons.

Mesmo que sempre esteja

No inverno o sentimento

Amarelo e fingido.

Feliz aniversário

A quem faça.

Eu???

Já passei do horário

Da Graça.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

E A CASA BALANÇA


Sem precisar mostrar qualidade, a dor do artista fingidor comove.
Está sempre nas tetas do poder, MESMO COM PROBLEMAS JUDICIAIS.
Seu espetáculo anual precisa de mais e mais recursos.
Geralmente, faz parte de um grupo onde estão as mesmas pessoas na presidência, desde Cabral.
Ou faz parte de um grupo onde o rodízio seja um engodo e a cara de AF na Presidencia do grupo seja equivalente a cara de FA.
Precisa estar preso à política para sobreviver.
Sabem cooptar artistas sensíveis...e como o artista sensível é um duro e um comovido, enfiam dinheiro em suas fuças, ou ajudam sua mãe doente.
A ÉTICA fica sob os pés de Brahma - o nume do Artista Fingidor.
O Artista Fingidor é expert em levantar as mãos com arte, pois pensa que sabe a chave da sedução do Artista Sensível.........
Um dia a casa cai.

A TEMPO


Pela CAM, dois cães "humanos" da República da índia ("cachorro também é gente"):
- Pedir demissão e montar uma ONG qualquer?
- Talvez seja melhor a gente montar carrocinha de cachorro-quente.
É mais honesto...
- Não, não. Sabe as 4 legiões sustentadas pela Mãe Joana o ano passado?? A gente faz igual.
- Sei, aquelas cujos integrantes foram presos.
- Então..Tinha artista participando em todos os grupos. Recebendo pelos 4.
- Mas a lei não proibe isso?
-Proibe. Mas a gente pode rasgar a lei como eles....O nº é....Lei nº.......Perguntemos amanhã pro James Bond Killer.
-Ele está vendo filme antigo do Bogart, comendo pipoca de microondas.
-Não é Casablanca, é?
-É, de novo. Ele gosta. Fazer o quê?
-Então, vamos amanhã.
- Certo.....Acho que.....estou com sono.
Bocejou e foi dormir, depois de mijar no poste (DESVIANDO DO JORNAL DO POSTE - PRIMEIRA EDIÇÃO-RARIDADE) e desligar o PC.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O SAMURAI IDOSO

Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que adorava ensinar sua filosofia para os jovens.
Apesar de sua idade, corria a lenda que ele ainda era capaz de derrotar qualquer adversário. Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali.
Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos contra-atacava com velocidade fulminante.
O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta.
E, conhecendo a reputação do velho samurai, estava ali para derrotá-lo, aumentando sua fama de vencedor.
Todos os estudantes manifestaram-se contra a idéia, mas o velho aceitou o desafio.
Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre.
Chutou algumas pedras em sua direção, gritou todos os insultos conhecidos - ofendeu inclusive seus ancestrais.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho mestre permaneceu impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se. Desapontados pelo fato do mestre ter aceito tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram
Como o senhor pode suportar tanta indignidade?
Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós ?
- Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?- perguntou o velho samurai.
- A quem tentou entregá-lo - respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos - disse o mestre.
Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo.

REVELAÇÃO

Bens da Paixão.
Males da mesma.
Em cima de mágoas, angústias.
Até que ponto, a cruz do Cristo se imobiliza.
Até que ponto o ator, o diretor, o assessor,
o iluminador, o sonoplasta, e mais astas e istas,
herdam as chagas.
Vaidades, ambições, raivas, desejos,
interesses, até que ponto geram feridas em nossas mãos?
E os mal-entendidos, e os pés feridos, e a mente gasta.
Parece que as feridas jamais irão se curar.
Parece que os ódios serão eternos,
não só na Faixa de Gaza.
O desprezo, o controle, o âmago do ser,
sempre amargando, amargando, amargando.
É esse o dom do Homem?
Neste Homem gerado patriarcalmente,
cabe o ente Mulher?
Carregam elas cruzes.
As cruzes de si mesmas.
Não reconhecem que as feridas
estão sangrando do ladoe elas perdem a oportunidade
de serem uma só.
É a Paixão sendo revelada.

SERAQUE

Será que vai chover?
Ah, se ao menos chovesse!
Mas não chove.
Assim, o solo seco sofre.
Mas o que meus pés tem a ver
Com o solo seco que cresta,
Com seus pés também rachados,
Em gritos de ausente sola?
Quer água, mas quem a dá.
Será que vai arder
Pra sempre este destino
Que eu me vou armando?
Será que vai chover?
Se ao menos chovesse!!
Mas não chove.
Assim, o poeta seco chora

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

BRUZUNDANGAS - TRECHOS


Falar sobre os pretensiosos literatos de BRUZUNDANGA é falar sobre os pretensiosos literatos de BRUZUNDANGA.
TRECHO ESPECIAL DA OBRA BRUZUNDANGAS:
Capítulo especial
Os Samoiedas
Vazios estais de Cristo, vós que vos justificais pela lei; da graça tendes caído. São Paulo aos Gálatas
Queria evitar, mas me vejo obrigado a falar na literatura da Bruzundanga. É um capítulo dos mais delicados, para tratar do qual não me sinto completamente habilitado.
SUA EXCELÊNCIA
O ministro saiu do baile da embaixada, embarcando logo no carro. Desde duas horas estivera a sonhar com aquele momento. Ansiava estar só, só com o seu pensamento, pesando bem as palavras que proferira, relembrando as atitudes e os pasmos olhares dos circunstantes. Por isso entrara no coupé depressa, sôfrego, sem mesmo reparar se, de fato, era o seu. Vinha cegamente, tangido por sentimentos complexos: orgulho, força, valor, vaidade.
Todo ele era um poço de certeza. Estava certo do seu valor intrínseco; estava certo das suas qualidades extraordinárias e excepcionais. A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que o cercava eram nada mais, nada menos que o sinal da convicção geral de ser ele o resumo do país, a encarnação dos seus anseios. Nele viviam os doridos queixumes dos humildes e os espetaculosos desejos dos ricos. As obscuras determinações das cousas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar aos destinos que os antecedentes dele impunham...
E ele sorriu, quando essa frase lhe passou pelos olhos, totalmente escrita em caracteres de imprensa, em um livro ou em um jornal qualquer, Lembrou-se do seu discurso de ainda agora:
"Na vida das sociedades, como na dos indivíduos"...
Que maravilha! Tinha algo de filosófico, de transcendente.
Os literatos, propriamente, aqueles de bons vestuários e ademanes de encomenda, não lhes dão importância, embora de todo não desprezem a literatura oral. Ao contrário: todos eles quase não têm propriamente obras escritas; a bagagem deles consta de conferências, poesias recitadas nas salas, máximas pronunciadas na intimidade de amigos, discursos em batizados ou casamentos, em banquetes de figurões ou em cerimônias escolares, cifrando-se, as mais das vezes, a sua obra escrita em uma plaquette de fantasias de menino, coletâneas de ligeiros artigos de jornal ou num maçudo compêndio de aula, vendidos, na nossa moeda, à razão de quinze ou vinte mil-réis o volume.
A Bruzundanga, como sabem, fica nas zonas tropical e subtropical, mas a estética da escola pedia que eles se vestissem com peles de urso, de renas, de martas e raposas árticas.
Bruzundanga, três dos seus novos e soberbos vates; estavam ali: Kotelniji, Wolpuk e Worspikt, o primeiro que tinha aplicado o vernier para "medir" versos.
Num dado momento Kotelniji disse para Worspikt:
— Gostei muito desse teu verso: — "há luna loura linda leve, luna bela!"
O autor cumprimentado retrucou:
— Não fiz mais do que imitar Tuque-Tuque, quando encontrou aquela soberba harmonia imitativa, para dar idéia do luar—"Loga Kule Kulela logalam", no seu poema "Kulelau".
Wolpuk, porém, objetou:
— Julgo a tua excelente, mas teria escolhido a vogal forte "u", para basear a minha sugestão imitativa do luar.
— Como? perguntou Worspikt.
— Eu teria dito: "Ui! lua uma pula, tu moo! sulla nuit!"
— Há muitas línguas nela, objetou Kotelniji.
— Quantas mais, melhor, para dar um caráter universal à poesia que deve sempre tê-lo, como ensina o mestre, defendeu-se Wolpuk.
— Eu, porém, aduziu Kotelniji, conquanto permita nos outros certas licenças poéticas, tenho por princípio obedecer às mais duras e rígidas regras, não me afastar delas, encarcerar bem o meu pensamento. No meu caso, eu empregaria a vogal "a" para a harmonia em vista.
— Mas Tuque-Tuque... fez Worspikt.
— Ele empregou o "e" no tal verso que você citou, devido à pronunciação que essa letra lá tem. É um "e" molhado que evoca bem o luar deles, mas...
— E com "a", como é? indagou Wolpuk.
— O "a" é o espanto; seria ai o espanto do homem dos trópicos, diante da estranheza do fenômeno ártico que ele não conhece e o assombra.
— Mas Kotelniji, eu visava o luar.
— Que tem isso? Na harmonia em "a" também entra esse fenômeno que é o provocador do teu espanto, causado pela sua singularidade local, e pela hirta presença do iceberg, branco, fantástico, que a lua ilumina.
— Bem, perguntou o autor da poesia; como você faria, Kotelniji?
— Eu diria: "A lua acaba de calar a caraça parva".
— Mas não teria nada que ver com o tema da poesia, objetou Wolpuk;
— Como? O iceberg toma as formas mais variadas... Demais, há sempre onde encaixar, seja qual for a poesia, uma feliz "imitativa".
— Você tem razão, aplaudiu Wolpuk.
Worspikt concordou também e prometeu aproveitar a maravilhosa trouvaille do amigo de letras.
Kotelniji era considerado como um grande poeta "samoieda" e tinha mesmo estabelecido com assentimento de todos eles, as leis científicas da escola perfeita, "a samoieda", que ele definia como tendo por escopo não exprimir cousa alguma com relação ao assunto visado, ou dizer sobre ele, pomposamente, as mais vulgares banalidades.
Dentre as leis que estatuía, eu me lembro de algumas. Ei-las:
1.ª — Sendo a poesia o meio de transportar o nosso espírito do real para o ideal, deve ela ter como principal função provocar o sono, estado sempre profícuo ao sonho.
2.ª —A monotonia deve ser sempre procurada nas obras poéticas; no mundo, tudo é monótono (Tuque-Tuque).
3.ª —A beleza de um trabalho poético não deve ressaltar desse próprio trabalho, independente de qualquer explicação; ela deve ser encontrada com as explicações ou comentários fornecidos pelo autor ou por seus íntimos.
4.ª —A composição de um poema deve sempre ser regulada pela harmonia imitativa em geral e seus derivados.
E muitas outras de que me esqueci, mas julgo que só estas ilustram perfeitamente o absurdo da qualificação de leis científicas da arte. Alhos com bugalhos!
Denuncia tal denominação, de modo cabal, a sua incapacidade paragrupar idéias, noções e imagens. Que pensaria ele de ciência? Qual era a sua concepção de arte? Será possível decifrar essa história de "leis científicas da arte"? Qual!
Era assim o grande poeta samoieda.
Além de uma gramaticazinha que nós aqui chamamos de tico-tico e da arte poética de Chalat aumentada e explicada com uma lógica de gafanhotos, não possuía ele um acervo de noções gerais, de idéias, de observações, de emoções próprias e diretas do mundo, de julgamentos sobre as cousas, tudo isso que forma o fundo do artista e que, sob a ação de uma concepção geral, lhe permite fazer grupamentos ideais, originalmente, criar enfim.
A importância do vate lhe vinha de redigir A Kananga, órgão das casas de perfumarias, leques, luvas e receitas para doces, onde alguns rapazes, sob o seu olhar cioso, escreviam, para ganhar os cigarros, algumas cousas ligeiras.
O bardo samoieda tomava, entretanto, a cousa a sério, como se estivesse escrevendo para a Revue de Deux Mondes uma fórmula de mãe-benta; e evitava o mais possível que alguém tomasse pé na pueril A kananga. Era essa a sua máxima preocupação de artista.
De todos os postiços literários, usava, e de todas as mesquinhezas da profissão, abusava.
Era este de fato um samoieda típico no intelectual, no moral, no físico. Tinha fama.
Poderia mais esclarecer semelhante escola, os seus processos, as suas regras, as suas superstições; mas não convém fazer semelhante cousa, porque bem podia acontecer que alguns dos meus compatriotas a quisessem seguir.
Já temos muitas bobagens e são bastantes. Fico nisto.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

PEDAÇO DO SER


Acordo, e, neste acordar, o ser se instaura.

Começo a procura, a busca do vento e seu sumo.

Os chinelos, seu rastro e seu cantar rascante,

E no olhar pétalas de lábios, sonhos

Ignoram o solo onde me espanto

De não rever o rio que escorre em rugas,

Onde navego de barcos nos pés.

E, no entanto, a quilha à frente espuma.

E abordando o ser, teço bordados

Em torno da imagem que infinita

Ao projetar na escrita minha fome.

PAIXÃO


Paixão de Cristo,

misto de chão

com céu,

onde tantos e tantos

representam santos

e ou demônios.

Paixão, sendo de Cristo

ou de atoresdando os seus risos,

dores,sempre dão mais que sentido,

mais que conceitos,

sacrifícios

com cores.

Paixão de Cristo,um espetáculo

que é de quem fervena arenado cotidiano.

De quem borbulha.

De quem superaos cravos nas mãos.

De quem mudao sentido do esgoto.

De quem ramificano peito o som humano.

De quem carrega a cruzno bairro escroto.

De quem vertee é rei mortaldos seus caminhos.

O Teatro verdadeironão serve a alguém ou grupo

tão somente

mas ao povo

muito mais

para quem realmente

interessa e que por dentro

o sente.

O MORTO - UM CONTO DE NATANAEL


Quando ele morrera, todos falaram de suas performances.
As pessoas do bairro riam ao lembrarem do ódio que tinham dele.
Tudo ficou leve e senhoras de idade passaram a visitar-lhe o túmulo todos os dias.
Vereadores fizeram umas tantas moções de aplauso.
Rememoraram certa vez em que, saboreando uma iguaria morena, caíra uma abóbora em seu nariz.
E outra vez em que roubara roupas de uma “drag”.
E ainda uma outra em que pendurara mulheres num varal para o gozo do vento.
Todos os fatos relembrados não mais causavam asco.
Foi sem esforço que conseguiram sua canonização.
O prefeito ergueu-lhe uma estátua em que seu membro sexual tinha um infinito comprimento.
As bandas da cidade tocaram na inauguração.
Os grupos de teatro apresentaram peças em que ele era o personagem principal.
Foi colocado nos livros de história. Criaram acontecimentos em que ele efetivamente não participara.
Todas as revoluções citadas referiam seu nome.
Todas as guerras ganhas, idem.
Todas as crianças nascidas a partir de sua morte receberam-lhe o nome.
O prefeito pedira até a mudança de seu próprio nome para o do morto.
Na cidade, todos os logradouros foram renomeados com o nome do falecido.
O estado foi renomeado.
O país foi renomeado.
Todos os paises, o planeta, as estrelas, constelações, as galáxias, os buracos negros – nesse momento deuses caídos gritaram: aí não, criatura! - até chegar à cara de Deus, encostado numa anã branca..
Como Deus era Deus desde o início, temendo a concorrência, explodiu e refez o universo, cuidando para que o nome do morto fosse esquecido.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

NÁUSEAS

Em cima, o título.

No meio, o espaço em branco.

Embaixo, publicar postagem.

Salvar.


Mas acontece que não há salvação

Não há remédio para essa escrita

Que não é feia nem bonita

E se faz ação que não liberta.


Não há libertação para esta carne

Cujo cheiro causa náuseas

Em quem é feito de folhas e arbustos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

TEMPO


Está certo. Vou dizê-lo.

Sou intervalo, sou medo.

E vou assim pessoando

o ser como fez Fernando.

Sei que levo à raiva e sei

que até desperto rancor.

Entre um brâmane e um dalit,

sou do pó e mais que dele,

sou do além-pó que me embala

em seu verso pária.

Sou triste? Pra uns o sou.

Alegre, choro sem dor.

Se caibo na minha pele,

é que ainda não voou

o tempo que me emagrece.

Por mim, daqui não iria

o ser pleno em voz vazia.

Vê só. Foi-se uma hora.

E eu sem estar, vou pra lá,

bem longe, pr’além-nariz,

pra você bem se instalar.

Assim, o tempo se escoa.

E tento eu ser feliz

em minha tristeza à-toa.

sábado, 31 de janeiro de 2009

POSSIBILIDADES


Neste momento, o eu ser alguém a beber coca-cola com cerveja
pensa em sua cidade como alguém que simplesmente pensaa sua cidade.
Tenho de acordar segundas-feiras, terças, quartas, quintas, sextas.
Tenho um sábado e domingo para atuar com as costas sobre o encosto
de alguma coisa chamada cadeira ou sofá lendo algo inútil como um livro
de poemas mais verdadeiro do que todas as dores da carne.
O eu pensa em sua cidade sem ambições políticas
justas ou injustas.
O eu não tem um encontro onde possa degustar discurso
se envaidecer-se de ter uma bela opinião
e admiradores enxergando que daria um belo número
partidário.
Mas o eu sabe que sua cidade precisa para todos os cidadãos
de segundas, terças, quartas, quintas, sextas,sábados, domingos, com cerveja suficiente
para se tecer discursos e despertar olhares
ou quem sabe a possibilidade de ser mais um número
de parlamento.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CASAMENTO


Fim:
Seu casamento, feliz no fim, quando os pés são leves como bonecas infláveis de pelúcia.
Seu marido, o espelho das leis e convenções, tinha um modo de puxar as cadeiras nos restaurantes, semelhante à maneira de colocar o travesseiro embaixo das costas para dar prazer ao coito.
Sua família apoiara a união, louca pra se livrar de mais uma boca.
Mais sobra nos sábados em que churrascos chiavam em harmonia com os cliques das latas de cerveja. Mais espaço para as fodas sorrateiras nos recantos da casa, escuros e em construção.
Em casa, a recém-casada esperava o marido.
A princípio, o peso que sentira à cabeça não era digno de nota. Pensara ser o cabelo a causa da alteração gravitacional.
Uma vizinha inocente creditara a culpa ao deslocamento atmosférico.
No entanto, eram tantas as hipóteses, palpites, piadas, que decidira recorrer ao esotérico.
Satisfeita com a resposta abstrusa, cheia de complicações sintáticas, transformara o acontecido numa vantagem, alugando seus chifres como quarador.
O inconveniente era que o teto precisava ser aumentado infinitamente, chegando a tocar no sobrado dos deuses desacreditados, adrede confundidos com anjos caídos.
Uma vez despencara um deus por sua galha, que amorteceu a queda.
Foi a partir dessa visita bombástica, da qual o deus nu soube tirar proveito, que sua sexualidade ficara incontrolável e a galha foi diminuindo até sumir.
Então, a história terminando pelo início. Era uma vez uma esposa que conheceu – no sentido bíblico – um deus desconhecido e pediu o divórcio e saiu pelas ruas dando pra deus e o mundo, afirmando o selvagem impulso dionisíaco de ouvir o grelo falante.

TURVOS


Somos do mesmo aquário
esgotamos a mesma água
devoramos os peixes pálidos
por ofenderem nossa fome de espelhos
Somos do mesmo aquário
pensem na idéia desse aquário
acompanhem a falta de idéia desse aquário
no fim só as paredes de vidro
sem filosofias que não sejam transparentes
Somos desta água suja e orgulhamo-nos
do que vêem nossos olhos turvos

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PRIAPO - um conto de Natanael


Príapo verifica as rodas, a gasolina, o óleo, enfim, cuida em ver se o caminhão aguentará o repuxo para a próxima viagem.
Olha ao redor, sem constrangimento. Tivesse alguém olhando, esguicharia, conforme o pretendido.
Está apertado. Abre a braguilha. O zíper engancha. O sangue aponta na glande.
Vai até a cabine. Um pano, que não percebe embebido em gasolina, traz mais dor.
Vai ao banheiro. Abre o chuveiro. Água quente ferve ainda mais seu grito calado.
Eu o observo. Chamam-me de devorador, alguns. Outros, apenas, de narrador. Quanto a mim, não sei do que chamar-me. Não tenho memória larga. O momento, o que mais me marca.
Príapo, após algumas horas, serenadas as angústias corporais, resolve partir.
Em minha cabeça, todas as vozes antecipam o que ele fará. Não posso impedir muita coisa. Tenho a minha hora própria para atuar.
Vejo tudo em minha mente. Daqui a pouco, estará aqui.
Após passar por duas pontes, na beirada de uma delas, vê alguém pedindo carona. Pára. Uma cabritinha sobe os degraus e se ajeita.
Ela lhe agradece. Uma cabritinha bem criada. Quatro patas sólidas, pêlo luzido e com um cheiro incomum em animaizinhos como ela.
Depois de umas duas horas, resolve parar pra ir tirar água dos joelhos.
Ela desce junto, mas vai à frente. Ele observa o rebolado animal, o furinho acendendo e apagando.
Entram no mesmo banheiro. Ele, mais que depressa, coloca o membro pra fora. Alívio, quando todo líquido se escoa.
Quando vai guardar, um berro sutil povoa o ambiente. A cabra colocara a língua pra fora. Uma língua longa e viscosa. Tão longa que num minuto envolve-lhe o saco escrotal. Parecia uma puta experiente nos matos do mundo. Ele força a cabeça e o focinho da gulosa, num amplo movimento de ida e volta.
Enquanto é engolido, observa o rabo da cabrita num balanço de volúpia. Sente vontade de virá-la, antes que o gozo se cumpra.
Porém, ela mesmo oferece-lhe a entrada suculenta. Todavia, é só Príapo encostar e o banheiro todo se inunda de esperma.
Na inundação, a cabritinha morre e sou obrigado a cumprir meu dever.
Com uma gilete, rasgo a história em quadrinhos, com todo cuidado, procurando retirar Príapo do papel. Sinto sua dor e dela me alimento, como todos os dias em que reinvento seu retalhar.

domingo, 25 de janeiro de 2009

CHUTAR NO CLARO

Tirei o sapato do pensamento.
Fiquei sujeito ás micoses do pensar.
Pensei em não pisar idéias-bosta-no-caminho.
Pensei em não andar senão em tapetes de liberdade.
Tirei o sapato do pensamento.
Pode acreditar no xulé que não sentes.
O vento ajudando os vãos dos dedos de refletir.
O vento ajudando ás idéias dos galhos.
Sei que nunca será tarde pra voltar a usá-los.
Só que agora não preciso
.Os pés brilham de desejos satisfeitos.
Podem chutar no claro sem o escuro dos sapatos.

CACOS DE AMAR


Cacos de meu amar rolando pelo morro abaixo.
Do meu amar que não se conhece desde o século passado.
Do meu amar primeiramente tecido por poeta enquanto seu fígado recebia bicadas.
Do meu amar que insiste em vir a mim pela escrita de outros prometeus.
Cacos de meu amar num barulho de avalanche.
Cacos de meu amar sem amada ou objeto de apaixonar.

Vai rolando abaixo e nem sei nomeá-lo com outro nome que não seja o verbo amar.
Cacos aos quais ninguém liga porque sou aparência de felicidade sob um sol de guarda-chuva.
Contemplo os outros rostos com a indiferença que me dedicam.
Cacos de meu amar rolam com meu umbigo.
Sei que podem ferir alguém lá embaixo excessivamente consciente de ter poder.
Mas que posso fazer se são cacos de amar e descascaram como cascas de ferida?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

MACHADOLHAR

Há um cansaço bem aqui dentro.
Quase dobro o martelo da ausência.
Preciso força nas pernas do poema.
Excesso de fritura nos signos.
Estou cansado do espaço para amar.
Estou cansado do tempo para amar.
Estou preparado para não levantar jamais.
Ficarei aqui, oxidado de sonhos estéreis.
Ficarei aqui sem arquitetura.
Esvaindo por entre os fatos.
Vontade de raspar o chão com meu cansaço.
Vontade de gastar na vida o inalcançável.
Há um cansaço de sentir.
Há um cansaço dos olhos.
Os braços iludem com seu movimento.
Só movimento o por-fora.
O por-dentro trago aqui, cansado.
Só o corpo passeia, provisório.
Ficarei aqui sem sentir, sentado.
Não adianta sentir.
Sentar, estender-se.
As linhas das rugas acentuam.
Vontade de ser uma árvore e esquecer
Que a beleza feminina nos circunda
Qual um machado cheio de olhos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

UM POEMA DE NATANAEL


O prato está vazio
Para a chegada do fantasma gordo
Que adora os pastéis de vento
De tia não-nascida, a quem amo
Com toda a indiferença
Que neste instante me dá a palavra amor
.Não totalmente vazio
Há grãos de arroz
Deixa eu contar
Quantos há no teu olhar.
Tentei não ser romântico
Mas na minha frente uma colher abraça um prato
Que tem alguns grãos de arroz e exala um perfume
De coisa não-lavada.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O MESSIAS EM BRUZUNDANGA E SEU ÚNICO JUDAS


Criação do fórum técnico permanente de cultura com representantes dos vários setores das artes para discussões de políticas públicas culturais

-Você enlouqueceu?

Uma verba dentro do orçamento da secretaria destinada à coordenadoria do teatro

-Tá sonhando...Eu sou mais a minha tuba..

Lei municipal de fomento à arte

-Pensa que é o Messias?

Implantação de políticas de valorização para a formação artística e cultural e de público na área teatral, nos escolas municipais e estaduais, nos centros culturais e entidades de bairros já existentes, através de diversos grupos tanto locais como de outros municípios

- Outros municípios? (ao povo) Gente, cortem-lhe a cabeça!!!

Espera, eu não acabei!

Criação de uma escola livre de teatro

-Pra que teatro? O suficiente está aqui.

Todos querendo ser o máximo...Equipamentos e readequação dos espaços já existentes com mesa de luz e som, técnicos especializados

-Você apenas repete os outros de antes..Saia já daí!!!

Mostra de teatro dos grupos locais e mostra de teatro intermunicipal

-Como que é? Outros? Intermunicipal? Que p...é essa?

Teatro municipal ligado à secretaria municipal da cultura com todo equipamento e palco adequados às existências do teatro

-Secretaria Municipal de Cultura, burro(com as iniciais em maiúscula)!!

Calendário artístico cultural do município

-Olha lá no outro tópico. Sua cruz está vazia.

Criação de veículos de comunicação para divulgar as atividades culturais

-O jeito é apagá-lo.

ASSIM TERMINOU EM BRUZUNDANGA O DIALÓGO ENTRE O MESSIAS E SEU JUDAS QUE ASSASSINOU-LHE COM O DEDO NA TECLA "DELETE".
-0-
NOSSO COMENTÁRIO:
Senhora Secretaria de Cultura do Municipio de Cubatão,
solicito sua atenção, as ideias de MESSIAS.
Por meio deste comentário, este editor coloca com PRIORIDADES CULTURAIS DE CUBATÃO
as ideias do tal personagem MESSIAS, e pode ter certeza, Senhora Secretaria, que seria o ideal, para a cidade e a senhora, escreveria seu nome em letras douradas, na cultura do municipio, se apoiasse tais implantações.

sábado, 17 de janeiro de 2009

DESARMEI


Eu fiquei a coçar perebas.

Ela foi a manipular o sexo

Que descobrira ao sul de si.

Eu me dei aos vãos de meus dedos.

Nela dói o eu ter me olhado.

O eu ter viajado

Ao norte de mim.

Eu fiquei.

No norte.

Ela foi.

Ao sul.

Desarmei o vento de ser.

De ser desejo a lamber-me.

Em pedaços,

Não me servi da ceia.

Hoje.Só hoje, notei os raios que ficaram

De seus olhos feridos nos meus.

NATANAEL NOS TRAZ LIMA BARRETO


OS FRAGMENTOS QUE VÃO ABAIXO SÃO DE AUTORIA DE LIMA BARRETO TENDO COMO MOTIVO O BRASIL DE SUA ÉPOCA, QUE ELE CHAMA DE BRUZUNDANGA(trapalhada):

" O senhor quer ser diretor do Serviço Geológico de Bruzundanga? pergunta o Ministro.
-Quero, Exa.
-Onde estudou Geologia?
-Nunca estudei, mas sei o que é vulcão.
-Que é?
- Chama-se vulcão a montanha que, de uma abertura, em geral no cimo, jorra turbilhões de fogo e substâncias em fusão.
-Bem. O senhor será nomeado.
.....
Houve um rapaz que, julgando que o poderoso Visconde queria um amanuense chic e lindo, supondo-se ser tudo isso, requereu o lugar, juntando os seus retratos, tanto de perfil como de frente.
Pâncome fê-lo vir a sua presença. Olhou o rapaz e disse:
-Sabe sorrir?
-Sei, excelentíssimo Senhor Ministro.
-Então mostre.
Pâncome ficou contente e indagou ainda:
-Sabe cumprimentar?
-Sei, senhor Visconde.
-Então, cumprimente ali o major Marmeleiro.
............
Indagou, afinal:
- Sabe escrever com desembaraço?
-Ainda não, doutor.
-Não faz mal. O essencial, o senhor sabe. O resto o senhor aprenderá com os outros.

E foi nomeado, para bem documentar, aos olhos dos estranhos, a beleza dos homens da Bruzundanga."

O BRASIL MUDOU????

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

RAMALHO


Não se sabe se a desterro

Não se sabe se a naufrágio

Ou se o seu mapa deu erro

Ou se da nau lhe empurraram.

Só se sabe que o Ramalho

Aportou no lugarejo

E pôs olho na filhinha

Do cacique, com desejo.

Que lugarejo o merece?

No “Enigma”, Schmidt

Diz que Cubatão é esse,

E formou-se um ti-ti-ti.

Fundador de Santo André,

Ramalho seu lar ergueu.

Deu-lhe aquilo a mulher,

E de céu gozos lhe deu.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

"SESMARIAS"

Martim doou sesmarias
Para boa ocupação.
Vieram depois rap'rigas
Para a multiplicação.

Ventres deram joãozinhos
E outras mariazinhas.
Com tal enchente de ninhos
Cubatão ficou cheinha.

Pois Doutor Pero, Rui Pinto
E outro Pinto notório,
Ganharam sem nenhum risco
Cubatenses territórios.

Sesmarias deu Martim
Para que gente ocupasse.
Daria poligamia
Seis marias, se as doasse?

domingo, 11 de janeiro de 2009

LENDO CUBATÃO


Cubatão, atenta no que digo,
E deixa eu ler-te o imberbe rosto...
Vejo, pelas linhas que ele tem,
Guerras que, valente, enfrentaste,
Aos olhos salsos dos sambaquis.
E enxergo-te a tostada face
Em araçás, jacatirões,
Bananas, jacas, mexericas,
Dando perfume a tuas glórias,
Como cantou teu filho Afonso Schmidt,
Ao bem louvar-te a fauna e a flora.

Não preciso paga, só ouve a canção
Que flui em teu rosto de rios e serras,
Guarida e piscina de ágeis pirralhos,
Vitrina de peixes, cujos olhos guardam
A nudez antiga de moças risonhas,
Acocoradas, se lavando,
Engrossando as coxas no agacharem-se,
De pito nos lábios, em paixão intensa,
Por artes de botos em candentes taras.

Escuto em teu peito o sangue quente
Do velho povoado em fluxo verde
Nas trilhas infindas de índios, que Ramalho,
Martim, Tibiriçá, e outros, percorreram,
Subindo o íngreme planalto, em caça
Dos tupinambás, valentes guerreiros.

Guarda essas moedas. Olha, estão caindo.
Apanha-as do chão e com elas adquire
Um terreno ao pé de velha estrada serpenteante,
Onde descanses lembranças de DOM PEDRO I,
Que te cobiçou a pele morena, quase aqui deixando
O sêmen da independência.
Descansa a memória também de PEDRO II
E seca as mãos molhadas de MIQUELINA DOMINGUES
Que deu água certeira à sua imperial sede incerta,
Primaverando seus lábios de outono.



Vejo pelas linhas de teu ventre e sexo
A biodiversa cor de tuas aves e raças.
E em tuas pernas, avisto crianças,
A roçarem-te o joelho azul,
E percebo em galhos ninfas solitárias,
Esquivando dos estilingues sôfregos,
Aguardando pássaros de arco-íris,
Na esperança fértil do perene amor,
Vindo de além-mar, da beira do rio, ou qualquer lugar.

E pelos teus pés de barro e ouro,
Noto emancipadores, que, num longínquo 1949,
Impulsionaram nossa rica história,
Onde rodas dentadas ainda marcam presença
E teimam em transformar recursos em riquezas.

Vejo-te os rastros, sulcos, feitos em som, doçura e fúria,
Marcando o mistério contemporâneo de tocar com dedos de aço
Os seios dos teus morros, os teus braços de rios,
Os cabelos dos teus manguezais, o teu corpo, enfim,
Ao pé da serra azul, a fluir no crescendo da história.

E surpreendo-me sobre teu ser,
A brincar de furar rãs com tridentes improvisados,
A estudar com o fito em ser astronauta
E roubar o mel da Ursa Maior,
A trabalhar e ser artista,
Só para registrar o melhor do ser no espaço.

Cubatão, assim te vejo e sinto, da cabeça aos pés,
E descubro-te, Alteza Serrana,
Como passista mítica dos sambaquis,
Enquanto o enredo de teu corpo se fortalece,
Convertendo a esperança em samba
Molengo e alegre, por artes do amor,
Que encharca presente, passado e futuro de sentido.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A ROSA FLORESCERÁ EM NOSSOS MURCHOS JARDINS


Começo por declarar meu amor à Democracia. Consequentemente, gosto de eleições.
O difícil, no processo eleitoral, é sermos os mesmos do começo ao fim. Não só o candidato, também o eleitor. Ocorrem todos os tipos de estratégia e equívocos, cobrindo nossas intenções claras com mantos algo escuros.
Afinal, somos animais emotivos por excelência. E interessados. E interesseiros.
Passada a chuva eleitoral, chegamos nos tempestuosos dias da busca por cargos. Atropelamo-nos. O banquete dos cargos desperta-nos.
- Queremos servir a comunidade!!! Ser úteis!!...Não queremos dinh....(alguém tapa-me a boca).
Edis e secretarios lutam a nosso favor. Mas temos muitos irmãos. Todos de bocas escancaradas. Dentes e facas amolados.
x- Ei, esse cargo de chefe de não-sei-quê-serviço não exigia escolaridade superior!!!
y- Eu criei isso. Era chefe. Quero continuar. Fiquei dependente...Por isso, mudei de partido.
x- Entendi...Como vai ser dificultoso achar gente de nível universitário em nossos quadros....voce continua no cargo.
LEMBRANDO LIMA BARRETO NA CRÔNICA "DISSIDÊNCIAS":
ORA,BOLAS! CHEFES QUE TAIS NÃO MERECEM CONFIANÇA!
O QUE ELES QUERIAM, O QUE ELES QUEREM, SÃO PROVENTOS QUE OS ALTOS CARGOS DÃO E SOBRETUDO AS VANTAGENS QUE ELES TRAZEM A MARGEM.
Nas ruas, a espera: - TERMINEM DE REPARTIR LOGO NOSSA TÚNICA!!!!!
A ROSA É NOSSA, É LINDA E PRECISA FLORESCER EM NOSSO MALTRATADO JARDIM!!!!!

Natanael

sábado, 3 de janeiro de 2009

MÁRCIA ROSA... PERFUME DE ROSAS CÁLIDAS


Deu-se a posse de nossa Prefeita em 1º de janeiro de 2009.
Temos, na história de Cubatão, a primeira mulher empossada como titular do Poder Executivo.
Quem dera, tivéssemos mais mulheres no Secretariado.
Mas, estamos em um sistema patriarcal.
Num sistema assim, o deus é masculino, como papai noel, buda, maomé, etc....
Porém, Márcia Rosa, ajudada por Marilda Canelas e Erenita, equivalerão, em energia e determinação, a todos nós, homens e não-homens (corruptos).
Assume a Prefeitura com imensas responsabilidades.
Seu dever maior será restabelecer a estatura ética do nosso município.
Na posse, tivemos pequena mostra da correlação de forças que dominará no transcorrer de sua gestão.
Não será fácil.....se bem que....tenho medo de harmonia entre legislativos, judiciários e executivos....
Tenho como salutar, democrático, a desarmonia (aparente, até certo ponto)...
Pois pensamentos unificados podem desembocar em delírios de autoridade, melhor dizendo, ditatoriais.
Há demasiadas articulações em todas as esferas de poder. Para o bem (de uns) e para o m...o bem (de outros).
O positivo é que sabemos quem é quem desde já.
Preferia que fossem pessoas diferentes fazendo oposição salutar.
Como quero um sindicato dos servidores fazendo oposição construtiva...
Tá bem, já posso até ouvir alguém contra-argumentando que não há oposição, há apenas posição (presidente, vice, secretário, etc..).Seja.
Fiquei contente com a iniciativa da Prefeita contra os corruptos.
Ah, tivéssemos um Protógenes Queiroz, policial federal que faz tremer os bandidos de colarinho!!!
Hoje, cortaram-lhe as asas e recursos, mas - pasmem -, ele ainda voa de encontro aos "insetos". Há uma vasta entrevista com ele na revista "CAROS AMIGOS".
Mas creio em Márcia Rosa como nunca acreditei em ninguém...
Só não me mandem mitificar quem, cedo ou tarde, nos requisitará a Amazônia.
A MÁRCIA ROSA meu assentimento plácido com perfume de rosas cálidas.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

SAMBA AQUI SAMBAQUIEI


Fui visitar sambaquis,

E comi osso no espeto,

De conchas fiz atabaque

Pra macumba de esqueleto.

Acumulei no coração

Muitos ardores ariscos.

Em solidão vi amores

Entre siris e mariscos.

O antropólogo Paul Rivet

No sambaqui de Piaçaguera

Se encantou tanto que ao ver

Esqueceu-se porque viera.

Fui visitar sambaquis,

Andei pra lá e pra cá,

Em Casqueirinhos me vi

No pé de sambaquiar.